
15/12/2025
Em Taradell, na Catalunha, um projeto simples de horticultura comunitária acabou abrindo caminho para uma das experiências mais bem-sucedidas de energia renovável da Espanha. A cidade, conhecida pelo forte engajamento entre moradores, viu quatro ativistas transformarem a iniciativa das hortas em algo muito mais ambicioso: a criação da cooperativa Taradell Sostenible, hoje composta por 111 membros e responsável pelo fornecimento de eletricidade renovável a mais de 100 residências — muitas delas de famílias vulneráveis.
O acesso das pessoas com menos dinheiro foi uma preocupação desde o início. “A questão era como as pessoas com poucos recursos poderiam aderir à cooperativa se a adesão custasse €100 (cerca de US$108)”, lembrou o presidente da organização, Eugeni Vila. “Concordamos que as pessoas consideradas pobres pela autoridade local poderiam aderir por apenas €25 (cerca de US$27) e, assim, beneficiarem-se da eletricidade barata que geramos.” O apoio do Instituto Espanhol para a Diversificação e Poupança de Energia (IDAE) viabilizou a instalação dos primeiros paineis solares no telhado de um centro desportivo e de um edifício cultural. “Estamos muito orgulhosos do fato de o IDAE nos considerar pioneiros”, disse Vila, ressaltando que os fundos do programa NextGenerationEU foram essenciais para tirar o projeto do papel.
A experiência de Taradell não é isolada. A rápida expansão das comunidades energéticas pelo país foi impulsionada principalmente pela revogação, em 2018, do chamado “imposto sobre a luz solar”, regra criada em 2015 que penalizava quem gerava a própria eletricidade. O fim da tarifa provocou uma virada imediata: segundo o IDAE, as instalações solares em telhados cresceram dezessete vezes desde então. Aproveitando esse cenário, o instituto passou a direcionar recursos especificamente para iniciativas coletivas e reservou €148,5 milhões (cerca de US$160 milhões) para apoiar 200 projetos de energia comunitária.
A flexibilização das regras também foi fundamental. A distância máxima para compartilhamento de energia em sistemas comunitários passou de 500 para 2.000 metros, abrindo espaço para que telhados de centros esportivos, armazéns e prédios públicos se tornassem pequenas usinas capazes de abastecer residências próximas. Especialistas já defendiam esse modelo há anos, e ele ganhou força sobretudo por atender um objetivo central do IDAE: reduzir custos energéticos de famílias classificadas como em situação de pobreza energética — grupo que não consegue arcar com os €5.000 a €6.000 (US$5.400 a US$6.500) necessários para instalar paineis individuais.
Nesse contexto, cooperativas como a de Taradell passaram a atuar em rede. A cidade trabalha hoje em parceria com Balenyà e La Tonenca, estratégia que amplia o alcance dos projetos e acelera sua implementação. “Desenvolvemos uma fórmula para ajudar pessoas que estão com dificuldades financeiras, integrando-as a uma rede que as ajuda a melhorar sua situação”, explicou Vila. O Sun4All, iniciativa da União Europeia, reforçou esse trabalho ao apoiar projetos de energia solar destinados a famílias de baixa renda.
A expansão se estende a regiões remotas. Na Galiza, ilhas pequenas seguem o mesmo caminho com apoio do IDAE. Na ilha de Ons, onde vivem apenas 92 pessoas, o antigo gerador a diesel está sendo substituído. “Com esses subsídios, vamos instalar paineis solares nos prédios da administração local para fornecer energia aos moradores da ilha, a maioria idosos e vulneráveis”, afirmou José Antonio Fernández Bouzas, chefe do Parque Nacional das Ilhas Atlânticas. Nas vizinhas Ilhas Cíes, os sistemas solares já abastecem empresas locais, reduzindo a dependência de diesel em áreas ambientalmente sensíveis.
Os projetos comunitários também fortalecem a resiliência da rede elétrica espanhola. O grande apagão que atingiu Espanha e Portugal no início do ano evidenciou a vulnerabilidade de um sistema altamente centralizado. Usinas solares pequenas e espalhadas pelo território ajudam a mitigar o risco de falhas generalizadas. Esse modelo é particularmente importante num país em que 65% da população vive em prédios muitas vezes sem possibilidade de instalar paineis individuais.
A experiência de Taradell, que começou com quatro ativistas e uma horta, tornou-se símbolo de um movimento nacional baseado em organização local, energia limpa e inclusão. “Temos orgulho de sermos pioneiros”, afirmou Vila. E, em toda a Espanha, novas comunidades demonstram que esse modelo descentralizado e acessível pode redefinir a forma como o país gera e distribui sua energia.
Fonte: CicloVivo
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