
26/06/2025
Couro de animais criados em áreas desmatadas e em terra indígena no Pará viram itens de luxo fabricados na Itália, aponta investigação da Earthsight. O couro bovino vindo de áreas desmatadas ilegalmente na Amazônia pode estar se transformando em bolsas luxuosas – e inacessíveis para a maioria dos brasileiros.
Marcas como Coach, Fendi e Hugo Boss são listadas como compradoras da matéria-prima proveniente de florestas destruídas no Pará, estado que recebe a próxima Conferência da ONU sobre o Clima, a COP-30, em novembro.
A denúncia está no relatório O preço oculto do luxo: o que as bolsas de grife da Europa estão custando à Floresta Amazônica, da ONG inglesa Earthsight. Divulgado nesta terça-feira (24), o trabalho analisou milhares de registros de remessas para o exterior do couro brasileiro, dados sobre o setor pecuário, decisões judiciais, imagens de satélite, além de realizar entrevistas e trabalho investigativo de campo.
Antes de serem desejadas por consumidores globais e adquiridas por centenas de dólares, bolsas de marcas famosas percorrem um longo trajeto, com diversas paradas que ocultam a sua origem.
Muitos desses artigos de luxo, alerta a ONG, são feitos com o couro do animal criado em fazendas embargadas por violações ambientais e que ocuparam clandestinamente a Terra Indígena (TI) Apyterewa, no Pará.
"Os consumidores provavelmente esperam que, ao comprar um produto de luxo, aquele preço elevado ofereça algum nível de garantia quanto à ética e à sustentabilidade. Eles não esperam que aquela bolsa de couro esteja possivelmente ligada ao desmatamento e à violação de direitos", afirma à DW Lara Shirra White, pesquisadora da Earthsight.
A desconfiança dos pesquisadores surgiu após investigações sobre ilegalidades na pecuária feitas pelo Ministério Público Federal (MPF) e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
No fim de 2023, promotores começaram a ajuizar ações para punir os responsáveis pela comercialização de aproximadamente 50 mil cabeças de gado criadas ilegalmente na
entre 2012 e 2022.
O território indígena, localizado em São Félix do Xingu, foi um dos mais invadidos e desmatados durante o governo de Jair Bolsonaro, que ficou no cargo até dezembro de 2022. A partir de 2024, operações federais começaram a expulsar os grileiros e retirar os bois criados nos pastos que antes eram Floresta Amazônica.
A fim de descobrir o destino do couro extraído do rebanho ilegal, a ONG investigou os negócios da Frigol, frigorífico apontado como um dos compradores do gado criado na TI Apyterewa.
"A Earthsight analisou dados sobre os pecuaristas alvo das ações judiciais e descobriu que, entre 2020 e 2023, mais de 40% deles forneceram gado para unidades da Frigol no Pará", diz o relatório. "Esses pecuaristas venderam mais de 17 mil cabeças de gado para a Frigol durante esse período – o suficiente para produzir 425 toneladas de couro", afirma o documento.
Não é possível precisar o número de bois saídos ilegalmente da Apyterewa e vendidos a Frigol, ressaltam os pesquisadores. "O próprio frigorífico também não tem certeza. Isso mostra um problema mais amplo de falta de transparência no setor pecuário brasileiro, a empresa não rastreia a maior parte de seus fornecedores indiretos, o que deixa sua cadeia de suprimentos vulnerável à prática disseminada da ‘lavagem de gado´", diz o relatório, referindo-se à transferência de bois de fazendas ilegais para propriedades regularizadas na última etapa antes da venda.
Fundada em 1992 no interior de São Paulo, Frigol está entre os cinco maiores frigoríficos do Brasil. A empresa atua no Pará desde 2004, onde mantém unidades em Água Azul do Norte e São Félix do Xingu.
A reportagem completa pode ser lida no g1

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