
06/06/2017
Um dos legados olímpicos transformou-se no cenário de uma tragédia pouco depois de sua inauguração. Em janeiro do ano passado, a ciclovia Tim Maia, na Zona Sul do Rio, desabou após ser atingida por uma forte onda, provocando a morte de duas pessoas. O episódio é lembrado em um novo relatório do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC), que menciona os fenômenos naturais danosos à frágil infraestrutura do litoral do país.
O documento, batizado “Impacto, vulnerabilidade e adaptação das cidades costeiras brasileiras às mudanças climáticas”, dedica atenção especial às quatro principais capitais litorâneas do país — Rio, Fortaleza, Salvador e Recife —, além de Santos e da Foz do Vale do Itajaí, em Santa Catarina, que possui importantes portos e balneários turísticos. Todas as regiões analisadas estão sujeitas a eventos extremos como chuvas intensas, ventos fortes e aumento da temperatura mínima. Entre os desastres naturais, os pesquisadores elencam inundações e deslizamentos de terra.
Em um estudo de 2014, o Banco Mundial alertou que, em meados do século, a elevação de 0,2 metro do nível do mar pode provocar prejuízos econômicos anuais de US$ 940 milhões em 22 das maiores cidades costeiras da América Latina. Se o avanço fosse de 0,4 metro, os danos alcançariam o patamar de US$ 1,2 bilhão.
Cerca de 60% da população brasileira mora na zona costeira, onde é produzida 30% da riqueza nacional. O crescimento urbano desta região, segundo o relatório, “tem sido associado basicamente a interesses econômicos, sem considerar o risco e exposição aos impactos da elevação do nível médio do mar e dos extremos meteorológicos”.
— Há uma lacuna no conhecimento sobre os efeitos do aumento do nível do mar. Há poucos registros históricos disponíveis no país. É uma área menos estudada do que outras relacionadas às mudanças climáticas, como o avanço da estiagem e do desmatamento — ressalta Fábio Scarano, diretor-executivo da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável e professor do Departamento de Ecologia de UFRJ. — Sessenta por cento da população brasileira habita as faixas costeiras, onde estão 18 regiões metropolitanas. Sua análise é importante sob o ponto de vista científico e de políticas públicas. Estas localidades são as maiores emissoras de gases-estufa no Brasil e, também, as principais vítimas desses poluentes.
O painel alerta que o aumento do nível do mar poderá provocar “a inundação de rodovias costeiras ou mesmo de extensos centros urbanos. Danifica estruturas como pontes, viadutos, calçadões, passarelas”.
Andréa Santos, secretária-executiva do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas, destaca os problemas em comum dos pontos estudados:
— Todos são vulneráveis devido à ocupação popular e à falta de infraestrutura adequada. Existem sérios riscos de desabamento de encostas. E as inundações previstas também provocarão sérios impactos em importantes setores da economia, como o funcionamento do porto de Santos — explica.
Scarano ressalta que a inércia do poder público provocará gastos emergenciais e muito maiores no futuro. O ecologista pondera que, mesmo se a emissão de poluentes fosse imediatamente interrompida, os gases de efeito estufa permanecerão na atmosfera por até 100 anos.
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