
27/11/2025
Organizações criminosas têm expandido sua atuação na Europa num negócio lucrativo e de baixo risco –o tráfico de lixo.
A Europol, agência policial da UE (União Europeia), afirmou que "o tráfico de resíduos está se intensificando, com uma projeção de crescimento ainda maior em escala e sofisticação" em seu último relatório sobre a ameaça do crime organizado.
Esses grupos encontram maneiras de contornar contratos de gestão de resíduos sólidos domésticos e comerciais e contam com uma rede de corrupção presente em todas as etapas do processo, aponta a Europol. Eles falsificam documentos, exploram ineficiências e lacunas e cruzam fronteiras para tirar proveito de uma aplicação mais frouxa da lei.
À medida que essa atividade ilegal cresce, as sanções continuam muito mais brandas do que as impostas contra crimes mais "tradicionais", como tráfico de drogas, destaca o Olaf (gabinete antifraude da União Europeia).
O problema voltou a chamar atenção devido à descoberta de uma montanha de lixo de seis metros de altura escondida perto do rio Tâmisa, em Oxfordshire, Inglaterra. Na última quarta-feira (19), foi relatado que a pilha continha evidências de resíduos de escolas e órgãos públicos locais, sugerindo abuso de contratos de gestão de resíduos com instituições estatais e empresas subcontratadas de forma legal.
É difícil obter estatísticas precisas para um mercado ilícito, mas estima-se que 15% a 30% de todos os transportes de resíduos podem ser ilegais; o valor deste comércio pode atingir até 9,5 bilhões de euros [R$ 59,2 bilhões] anualmente, como aponta relatório do Olaf.
A União Europeia transporta cerca de 67 milhões de toneladas de resíduos legais por ano dentro de suas fronteiras e exporta 35,1 milhões de toneladas, segundo dados oficiais divulgados pelo gabinete antifraude.
"Resíduos perigosos ou gerenciados de forma inadequada podem contaminar o solo, a água e o ar, e seu movimento descontrolado através das fronteiras prejudica a transição da UE para uma economia mais verde e sustentável", disse a assessoria de imprensa da organização à DW. "Isso também dá uma vantagem injusta às redes criminosas em relação às empresas que cumprem a lei."
A lei que rege o manejo de resíduos sólidos na UE, atualizada em outubro, tem como base o princípio de que o produtor original deve arcar com os custos de gestão dos resíduos. Os Estados-membros devem apresentar relatórios à Comissão Europeia pelo menos uma vez a cada dois anos e elaborar novos planos de gestão de resíduos a cada seis anos.
A aplicação da lei é complexa. A Comissão é responsável pela aplicação da lei de forma ampla, mas depende de agências em cada país, assim como da Olaf, da Europol e de vários outros órgãos nacionais e europeus.
Para complicar ainda mais a situação, nem todos os resíduos são iguais. Ao passo que a Europa avança para uma economia com menos impacto ambiental, alguns materiais demandam agora novos custos de tratamento para cumprir com os requisitos legais de descarte.
Isso inclui eletrônicos, veículos, gases fluorados, têxteis e plásticos de baixa qualidade. Os criminosos que operam na Europa empregam especialistas do setor como parte de sua organização e, muitas vezes, reciclam e vendem o que podem e despejam o resto, geralmente na Europa Central e Oriental, Ásia, África ou América Latina .
Os resíduos perigosos, provenientes da construção civil ou da indústria médica, por exemplo, são um pouco diferentes. Às vezes, eles são misturados com outros materiais para se tornarem algo vendável, mas ainda perigoso, ou transferidos para instalações que os descartam ilegalmente, sem levar em consideração os impactos ambientais e à saúde.
Conclua a leitura desta reportagem clicando na Folha de S. Paulo
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