
29/04/2025
Símbolo da biodiversidade brasileira e uma das principais atrações do turismo de observação no pantanal, a onça-pintada está em evidência depois da morte do caseiro Jorge Ávalos, 60, em Aquidauana (MS). Pesquisadores esperam ainda a conclusão das investigações policiais para ter certeza se o animal foi responsável pelo ataque e pela morte do homem. A ocorrência, segundo eles, foge das características do animal e pode aumentar a excepcionalidade do caso.
No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, 94 pessoas morreram no ano passado por mordeduras ou golpes de animais mamíferos, sejam eles silvestres ou domésticos. Os números ainda não estão consolidados, mas não diferem muito dos anos anteriores. Foram 123 em 2023, 97 em 2022, 105 em 2021 e 97 em 2020. Para efeito de comparação, no ano passado, os ataques por escorpiões resultaram em 139 mortes, de serpentes, 129, e de abelhas, 118.
Segundo o Cenap (Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros), os ataques de onça contra humanos são "extremamente raros e, os letais, praticamente inexistentes, sendo confirmados oficialmente apenas dois casos no Brasil". O setor ligado ao ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodersidade), do Ministério do Meio Ambiente, admite que os dados, no entanto, podem estar subnotificados.
Para o pesquisador Fernando Tortato, coordenador do Programa de Conservação da ONG Panthera no Brasil, a prática conhecida como ceva pode ter sido um fator que tenha favorecido o ataque, caso a causa da morte se confirme. Proibida por lei federal e por uma legislação específica de Mato Grosso do Sul, a ceva é o hábito de alimentar animais silvestres para atraí-los para perto.
Além de um hábito comum de curiosos, é um expediente usado por empresas de turismo para garantir que os visitantes avistem os animais.
"O primeiro problema causado pela ceva é retirar o medo natural que os animais silvestres têm do ser humano, mas o mais grave é que faz com que eles relacionem a presença humana à alimentação, o que pode gerar os ataques", acredita Tortato. O turista vai embora, mas a situação de risco continua presente para as populações ribeirinhas.
O Instituto Homem Pantaneiro (IHB), que também atua na região, destaca que foi informado em 2020 sobre a ceva naquela região e chegou a fazer vídeos e alertas sobre a prática. A região é distante dos centros urbanos, sem acesso por estradas e bastante usada para as práticas de turismo pesqueiro e ecológico.
Em nota, o ICMBio afirma que "as primeiras informações indicam que uma onça-pintada, macho de 94 kg, capturada no local do incidente dois dias após a ocorrência, apresentava comportamento de alta habituação ao ser humano. Diversos vídeos publicados nas redes sociais mostram que as onças da região eram frequentemente alimentadas por pessoas, caracterizando a prática de ceva".
Apesar de já orientar os guias turísticos sobre os riscos da prática da ceva, o IHB afirma que ainda não foi firmado um protocolo para o avistamento. As sugestões são de manter distância mínima de 10 metros e de evitar animais que estejam com seus filhotes próximos e aqueles que estiverem se alimentando.
O ICMBio sugere uma série de precauções para evitar o contato com os animais, como não caminhar sozinho, tentar fazer barulho durante a trilha e evitar horários que as onças estão mais ativas (à noite e no amanhecer). Caso aviste o animal, a pessoa não deve correr, e, sim, recuar devagar, mantendo sempre o contato visual com o animal.
Tortato afirma que, apesar de ainda bastante presentes em biomas como o pantanal e a amazônia, a onça-pintada está ameaçada de extinção.
"Elas foram extintas no pampa gaúcho e estão bastante ameaçadas na mata atlântica e na caatinga, principalmente. A situação é menos crítica no cerrado, mas ainda assim gera preocupação", diz.
Segundo ele, a destruição do habitat é uma das situações que colocam o animal mais próximo dos seres humanos e com menor possibilidade de se alimentar de suas caças habituais.
"A preservação da espécie no pantanal é um desafio que depende muito da conscientização dos fazendeiros, porque mais de 90% do bioma é formado por propriedades privadas", explica.
Geralmente, são fazendas dedicadas à pecuária extensiva, quando o gado é criado solto. "Diferentemente do cerrado e da amazônia, são propriedades que utilizam o bioma naturalmente e não por desmatamento", diz. O trabalho da sua entidade é convencer os produtores de que, apesar de eventuais perdas de suas crias, é importante não caçar as onças para evitar a sua extinção.
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