
29/04/2025
Um estudo conduzido por pesquisadores brasileiros na Reserva Natural Serra do Tombador, no interior de Goiás, revela que a interação entre besouros do gênero Actinobolus e os cupinzeiros – estruturas semelhantes a pequenos montes de terra onde vivem os cupins, comuns na paisagem do Cerrado – é capaz de gerar abrigo para diferentes espécies da fauna em situações adversas, como incêndios florestais.
Os cientistas descobriram que o besouro, ao depositar suas larvas no interior dos cupinzeiros, pode destruir colônias de cupins e modificar a “arquitetura” interna dessas construções naturais, facilitando o acesso de outros insetos, além de cobras, roedores e aves. “Os cupinzeiros são conhecidos como ‘engenheiros de habitat’ por sua importância ecológica no Cerrado, transformando-se em abrigos para muitas espécies, especialmente durante incêndios florestais e períodos de seca”, afirma o biólogo Reuber Brandão, membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN) e professor de Manejo de Fauna e de Áreas Silvestres da Universidade de Brasília (UnB), que coordenou o estudo.
A descoberta foi publicada em artigo na revista científica internacional Austral Ecology, assinado por Brandão, tendo como primeiro autor o jovem pesquisador Luís Felipe Carvalho de Lima, seu orientando na UnB. O estudo mostrou, no entanto, que essa infestação ainda é rara, ocorrendo em apenas 2% dos cupinzeiros examinados. “Localizamos apenas 4 entre 179 cupinzeiros analisados, mas o impacto observado é bem significativo, pois a destruição do ninho pelos besouros facilita o acesso de animais de maior porte, que passam a usar as estruturas como abrigo”, explica Brandão.
O cupinzeiro tem uma camada de terra externa muito resistente. Internamente, entretanto, onde fica o ninho dos cupins, o abrigo é mais maleável, feito de terra, fezes, saliva e matéria vegetal digerida. As estruturas oferecem não apenas abrigo contra ameaças externas, como ajudam na proteção térmica e na manutenção do microclima.
O professor da UnB observa que ainda há muito a ser descoberto sobre o comportamento e o ciclo de vida do besouro do gênero Actinobolus. “A interação entre esses insetos e os cupinzeiros pode ser um fator importante na gestão de áreas sujeitas a incêndios florestais, que infelizmente tendem a se tornar mais frequentes com as mudanças climáticas”, alerta Brandão. Ele acrescenta que o estudo continuará a acompanhar o comportamento desses besouros e os efeitos de suas atividades nos ecossistemas do Cerrado.
Para Mariana Vasquez, gerente da Reserva Natural Serra do Tombador, unidade de conservação criada e mantida pela Fundação Grupo Boticário desde 2007, a descoberta demonstra a importância de pesquisas científicas para entender melhor a ecologia no Cerrado, especialmente para a gestão de unidades de conservação. “Quanto mais conhecimento tivermos sobre as diversas espécies da fauna, da flora e seus processos ecológicos, mais ferramentas teremos para contribuir com a conservação do Cerrado, que tem uma biodiversidade tão rica quanto ameaçada”, frisa a gerente.
Apesar do benefício para outras espécies, essa transformação gera consequências negativas a longo prazo na estrutura dos próprios cupinzeiros, que se tornam mais vulneráveis à erosão por chuva e ao desgaste provocado pelo fogo. O pesquisador explica que, embora o número de cupinzeiros afetados pelo besouro do gênero Actinobolus seja baixo, o monitoramento a longo prazo é essencial.
Além de contribuir para a conservação da biodiversidade, Brandão sugere que a observação das interações entre as espécies na natureza pode inspirar soluções para a sociedade. “Imagine um prédio construído com a lógica dos cupinzeiros, capaz de resistir a condições climáticas adversas e criar um abrigo microclimático de forma natural. Muitas soluções para melhorar nossa qualidade de vida estão na observação da natureza”, conclui o pesquisador.
A Reserva Natural Serra do Tombador é uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) que protege 8.730 hectares de Cerrado, localizada em Cavalcante (GO). Classificada pelo Ministério do Meio Ambiente como área de extrema prioridade para a conservação da biodiversidade do Cerrado, é a maior RPPN do estado de Goiás. A unidade, que não é aberta à visitação pública, recebe pesquisadores dedicados ao estudo da conservação da biodiversidade, da ecologia do fogo e do Manejo Integrado do Fogo (MIF). Já foram registradas 437 espécies de plantas e 531 espécies de animais na reserva, algumas delas ameaçadas de extinção. A reserva também é considerada uma Solução Baseada na Natureza (SBN), contribuindo para a proteção de recursos hídricos, a regulação do clima e a fixação de carbono no solo.
Fonte: CicloVivo

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