UERJ UERJ Mapa do Portal Contatos
Menu
Home > Atualidades > Notícias
Ilha Grande retoma produção industrial de vieiras, ostras e algas com apoio de projetos ambientais

29/04/2025

Um cais de aproximadamente 50 metros de extensão leva quem chega do mar até a areia da Praia de Matariz, na Ilha Grande. Fica a 20 minutos de barco de Monsuaba, cidade de Angra dos Reis, no litoral Sul do Rio. É um lugar pacato, de casas simples e cerca de 280 habitantes, poucas pousadas. A rotina inclui idas e vindas de barco para o continente, pesca, mariscagem e artesanato. Nascido e criado ali, Jonas Rodrigues, de 24 anos, que trabalha desde os 15 na pesca, vislumbra um futuro na maricultura: o cultivo de vieiras, impulsionado por recursos de uma contrapartida ambiental.
— Como a gente é caiçara, tem essa atividade no dia a dia. É raro ter laboratório aqui na Ilha. A gente não sabia nada sobre como produzir semente de vieira pra depois levar pro mar, e aprendemos tudo. Hoje estamos com produção tanto no laboratório quanto na água — conta Jonas, que integra a equipe do Instituto de Pesquisas Marinhas, Arquitetura e Recursos Renováveis (Ipemar), que hoje atua em parceria com a faculdade de oceanografia da UERJ.
O laboratório fica na antiga fábrica de sardinhas na praia de Matariz, que fechou em 1994, e tem como foco a produção de vieiras e ostras, além de microalgas para nutrição dos mariscos. Foi inaugurado em novembro do ano passado, com recursos do Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), feito pela Prio.
A empresa comprou a participação da Chevron em 2019, e assumiu a produção de petróleo no campo de Frade, região de águas profundas da Bacia de Campos, no Norte Fluminense. Com a aquisição, a Prio se tornou responsável pelo remanescente das medidas compensatórias realizadas pela empresa anterior, devido a um acidente em 2012, equivalente a R$40 milhões em correções monetárias e rendimento financeiro no período.
A vieira é um molusco com valor comercial bastante alto — uma dúzia custa entre R$ 80 a R$120. Nos restaurantes, um prato pode ser ainda mais caro. Nos laboratórios, várias vieiras adultas vivem em tanques com água filtrada do mar, servindo de “matriz” para a reprodução de filhotes. Os biólogos captam os gametas na água, cruzam os femininos com os masculinos, e isolam os embriões em uma espécie de bolsa plástica.
Depois de 30 dias dentro dos tanques, milhares de sementinhas, do tamanho de uma poeira, são levadas para o mar, dentro da bolsa plástica, onde ficam em uma gaiola de tela, penduradas em boias nas fazendas marinhas. Depois de um ano, elas estão em tamanho comercial, prontas para serem vendidas aos restaurantes.
Até 2018, a Ilha Grande, no litoral sul do Rio, foi a maior produtora de vieiras e ostras do país, e chegou a distribuir para o mercado nacional mais de 2 milhões de sementes do molusco por ano. A queda brusca chegou a quase zero nos anos seguintes, mas desde o ano passado, graças a esforços de pesquisas e testes científicos, houve uma retomada de esperança: primeiro 100 mil, e depois 500 mil sementes de ostras e vieiras vendidas.
— Foi uma mortandade fora do normal. A própria semente começou a morrer nas fazendas marinhas. Muitas pesquisas e análises de qualidade da água foram feitas, e a conclusão foi multifatorial. Algumas hipóteses ainda estão em estudo, como o aumento da temperatura global, a diminuição de microalgas, a piora na qualidade da água — conta Renan Ribeiro, biólogo e diretor técnico do Instituto de Ecodesenvimento da Baía da Ilha Grande (IED-BIG), de Monsuaba.
Desde 1994, o instituto desenvolve o projeto Pomar, dedicado à produção em escala industrial das sementes de vieira. Hoje, o animal não corre mais risco de extinção por conta da reprodução assistida em laboratório.
Outra fonte de renda que vem sendo explorada na Ilha Grande é o cultivo de algas, a algicultura, que também acontece em fazendas marinhas. Além de ser considerado um superalimento, as algas também têm intenso potencial anti-inflamatório, antiviral e antifúngico. Na indústria cosmética, o gel produzido com a alga tem efeitos hidratantes e cicatrizantes, na pele, nos cabelos e nas unhas. O agro também pode se beneficiar com o bio estimulante para lavouras e superalimento para o gado, que reduz os gases emitidos pelos animais.
A Fazenda Marinha da Patrícia, na Praia da Guaxuma, é uma das oito beneficiadas no projeto da Associação dos Maricultores da Baía de Ilha Grande (Ambig) que incentiva esse tipo de cultivo, com recursos no âmbito do TAC Frade.
— As aplicações são diversas, desde a indústria farmacêutica, até a de alimentos. O achocolatado que vem pronto pra beber tem carragena na fórmula, que é extraída da alga. O grande potencial que está sendo trabalhado no momento é o bio estimulante, usado no agronegócio, na suplementação de alimento. O Brasil importa milhões de dólares em carragena. É um mercado muito amplo — explica Felipe Barbosa, vice-presidente da Ambig.
Os estudos indicam que a Alga Kappaphycus alvarezii é rica em vários nutrientes, como potássio e proteínas, além de ser antioxidante. Ela pode ser, inclusive, usada como sal de potássio, ao invés do sal de sódio na alimentação, que contribui para diminuir o consumo nocivo de sódio.
— O Brasil já foi o maior produtor de algas do mundo na década de 1960, mas era extrativista e exportava para o Japão. Hoje existem vários protótipos de produtos a base de alga, como protetor solar, desodorante, shampoo e condicionador, cremes hidratantes. É bom para o clima, para o ser humano, para a agricultura, para a pecuária — conta o biólogo Eduardo Lima, sócio da TerraMar, uma empresa de produtos naturais à base de alga.
O Saco do Céu é uma vila de pescadores e marisqueiras ao norte da Ilha Grande. É um dos polos gastronômicos de lá. A paisagem estonteante é de praia com mar cristalino e mangue, um dos ambientes centrais para o equilíbrio da vida marinha na comunidade e para o sustento das famílias, que pescam marisco. Siri e o vôngole, um molusco também conhecido como marisco-pedra, com sabor parecido com o do mexilhão.
É com uma colher de sobremesa que, aos 2 anos de idade, Lohan mais brinca do que cata marisco com a mãe, Luana Ignez Tavares Pereira, e a avó, Joana Ignez. Também participa a irmã mais velha, Luma, de 10 anos, que adora pastel de marisco. O ritual familiar é transmitido de geração em geração. No passado, era a própria Joana, a matriarca, quem saía com os pais e os irmãos em busca do alimento, fonte de renda para eles.
- Todo dia a gente acordava de manhã, a família ia pra praia, pegava 10 quilos de marisco por dia. Com o dinheiro, comprava as coisas pra casa. Os homens iam pescar e as mulheres vinham pegar marisco. Eu criei meus quatro filhos assim. Hoje dois são pescadores, um é marinheiro e minha filha é marisqueira – conta Joana. Nascida e criada na ilha, ela nem pretende sair.
A mariscagem é um dos roteiros de turismo de base comunitária criado pelos moradores como alternativa ao turismo de massa que é comum na Ilha Grande. A ideia é que o viajante viva uma experiência de intercâmbio em poucas horas, conhecendo a ilha a partir das histórias e do olhar dos jovens e dos mestres da região.
— Somos nós contando as nossas histórias. Geralmente o turista não se envolve com o lugar, só quer saber da foto e vai embora. A gente tem outra proposta. Montamos juntos alguns roteiros, levamos para conhecer moradores que são referências na vizinhança, as praias que a gente gosta, as atividades centenárias e os lugares mais característicos daqui, como o manguezal — conta Marcos Vinícius Corech que, aos 21 anos, além de mariscar, estuda biologia na UFRJ, além de ser guia credenciado pelo Ministério do Turismo.
Os roteiros que ele cita acontecem na Enseada das Estrelas, e incluem, além da mariscagem com direito a caminhada na lama, banho de mar e almoço, um passeio no nascer do sol pelo cerco flutuante (técnica de pesca tradicional da Ilha), com café da manhã e visita a uma produção de mel com abelhas nativas sem ferrão. Uma terceira opção é o passeio com mergulho na Praia de Fora, caminhada até cachoeira da Feiticeira e almoço caiçara. A outra possibilidade é uma visita guiada à histórica Igreja de Santana, com banho na Lagoa Azul e almoço.
O projeto de turismo de base comunitária foi pensado e criado pela Associação de Moradores da Enseada das Estrelas (Ampe), da qual Marcos e vários outros jovens fazem parte. A presidente e marisqueira Jaíza conta que o que começou com a mobilização local, se materializou nos roteiros e até na elaboração de um livro “Narradores das Estrelas”, onde os moradores contam a própria história em primeira pessoa.
— A gente queria que o projeto fosse a nossa realidade e mostrasse o nosso modo de vida. Começamos com a cartografia social, com ajuda da Amanda Hadama, moradora daqui, fez tudo com a gente. Fomos de casa em casa entrevistar os vizinhos e disso surgiu o livro. Foi muito legal ver a reação deles — conta Jaíza.
Um dos rostos da contra-capa é da cozinheira Maria Lucia Assis, de 67 anos, que, no restaurante do Saco do Céu, preparou o vôngole em uma moqueca e em um macarrão – surpreendentemente deliciosos.
— Eu estou na capa. Duvido você me achar aí — diz, e ri da própria brincadeira, orgulhosa de se ver parte do livro.

Fonte: O Globo

Novidades

Niterói terá maior área de plantio urbano de frutas do país, diz prefeitura

29/04/2025

A prefeitura deu início ao projeto Fruta no Pé, que anuncia como o maior plantio urbano de frutas do...

Ilha Grande retoma produção industrial de vieiras, ostras e algas com apoio de projetos ambientais

29/04/2025

Um cais de aproximadamente 50 metros de extensão leva quem chega do mar até a areia da Praia de Mata...

Besouros podem construir abrigos para várias espécies

29/04/2025

Um estudo conduzido por pesquisadores brasileiros na Reserva Natural Serra do Tombador, no interior ...

Ataques de onças contra humanos são considerados raros; saiba como evitá-los

29/04/2025

Símbolo da biodiversidade brasileira e uma das principais atrações do turismo de observação no panta...

Fundo de US$ 20 bi pode ser alternativa ao petróleo na Amazônia

29/04/2025

Em um planeta superaquecido pela queima de combustíveis fósseis, alternativas ao capital advindo do ...